sábado, 5 de junho de 2010

Itupava: um caminho embaixo d'água

Resolvemos antecipar em um dia a descida do Caminho do Itupava, e na sexta-feira de feriadão, dia 04 de junho de 2010, os Minhocas tinha seis integrantes e três convidados, grupo total de nove trekkers. Destaque para o Paulo, pai do Chaveirinho, que no final disse que "foi uma aventura muito divertida!". Todos madrugaram e estávamos reunidos no QG às 05h30 da matina. A previsão do tempo não ajudava, com seus 80% de chuva para 15mm de intensidade, chuva p'ra caramba! Mas não foi o suficiente para desistirmos. A alvorada prevista para às 06h52, e o pôr to do às 17h32.
Pegamos o ônibus Ctba/Quatro Barras no terminal do Guadalupe, às 06h00, e 45 minutos depois estávamos no terminal de Quatro Barras e conseguimos pegar o ônibus Borda do Campo às 06h50, com o dia raiando, e mais 20 minutos depois chegamos no ponto final, para caminhar mais 300 metros para chegar no início da trilha. Registrada a equipe no trailer do IAP, tiramos a foto oficial, e feito contato com as esposas e mães, iniciamos o trajeto pontualmente às 07h30.

E como estava na previsão do tempo, a chuva não deu trégua um minuto sequer em toda a trilha. Não adiantou rezar para Manitú (o deus da chuva), ele deu apenas 20 minutos de garoa lá embaixo, um pouco antes do Santuário do Cadeado. O resto, chuva, muita chuva. As mochilas, roupas, botas, dobraram de peso e as capas de chuva foram pouco eficientes. Como o trajeto é inteiro de pedras, e descidas íngrimes, o cuidado foi redobrado, mas mesmo assim, só o Tocador chegou intacto em Morretes, sem nenhum tombo. Eu estreie na categoria quedas, e cai duas vezes, numa delas simplesmente parado! Não conseguimos tirar muitas fotos, pois câmeras e celulares estavam ficando molhados demais, e corriam risco de simplesmente parar. Mas o maior prejuízo foi do Chaveirinho: seu celular resolveu se refrescar dentro da primeira cachoeira que paramos. Lá se foram as fotos também do Morro do Canal que ele não tinha passado ainda.
Foi difícil até para pararmos para refeição. No ínicio da trilha, achamos um pequena caverna formada por algumas rochas grandes, onde conseguimos nos abrigar da chuva e deu para comer alguma coisa. Depois disso, tocamos direto, e até às 13h00 não tinhamos achado nenhum lugar para comer, a galera preferia a fome do que abrir as mochilas e molhar tudo. Realmente essa foi nossa grande rival nesse desafio e o tempero principal da aventura. Chegamos nas ruinas ao lado da estrada de ferro, a frustração se manteve por não termos onde comer. Mas até ali, a trilha estava inteira, por assim dizer. Após cruzarmos o trilho, o próximo trecho deu muito trabalho. Estava mais fechado, uma boa parte de subida e muitas árvores caídas sobre o caminho, o que obrigava alguns contorcionismos ou então contornos no meio da lama. Todos extremamete molhados, a partir daí já tinhamos a sensação de calçar baldes cheios d'água, deixamos de lado o cuidado de desviar as poças ou lama, e o menor caminho era por onde passamos, dentro da água ou da lama, já não fazia diferença.
Quase chegando no Santuário do Cadeado recebemos uma ligação da Co-piloto, confirmamos que estava tudo bem, e em seguida conseguimos achar um paredão onde havia um pequeno espaço coberto que deu para todos se alinharem e comerem um pouco. Os teimosos foram o Fôdo e o Jeep, que continuavam desconfortáveis em abrir as mochilas. O Jeep resolveu comer um sanduiche depois que descemos as escadas e se abrigou dentro do Santuário do Cadeado. Parada de mais ou menos 20 minutos no total, retomamos a caminhada, com a esperança de fechar os 3,62 km que faltavam até o final da trilha em 1h30.
Continuamos descendo e esse trecho de trilha parece que foi a inspiração para a invenção das escadas giratórias. Muito zigue zague em descida íngrime, todo o cuidado foi pouco, mas conseguimos evitar tombos. A grande exigência sobre o corpo nesse ponto, foi das panturrilhas, pontas dos pés e joelhos, que ficavam levemente flexionados. Para aqueles que gostam de usar o ditado "para baixo todo santo ajuda" no caso das trilhas e morros, principalmente nesse grau de chuva, a descida utiliza muito mais as pernas, pois você fica constantemente 'freiando'.
Finalmente chegamos nas pontes "pensil", os rios estavam com um volume enorme de água, deixando a paisagem ainda mais bonita. Logo em seguida chegamos ao final da trilha, saindo na estrada de chão que nos levaria até a casa de apoio. Nesse momento, finalmente, o Fôdo resolveu aceitar comer as barras de cereal. Já eram 15h30. Concluímos o Caminho do Itupava em 8 horas de caminhada. Chegamos à casa de apoio em seguida, depois de 20 minutos, dando uma trégua para as costas tirando um pouco as mochilas. Dada a baixa na ficha do IAP, todos aproveitaram para comer mais, só que num lugar seco. Ajustadas as bagagens, retomamos nosso caminho rumo ao Porto de Cima, para cumprir mais 4 km em 45 minutos ou 1 hora. A preocupação com o Paulo e o Chaveirinho aumentou, pois acreditamos que eles optariam por esperar o ônibus Morretes/São João, que só passaria às 19h00. Mas ao chegarmos em Porto de Cima, o Paulo foi categórico: "Agora só faltam 7 km!". É, parece que o único inteirão do grupo era o Paulo!!!
E como temos um ranking para a quilometragem rodada, ninguém deu o braço a torcer e tocamos em direção a Morretes, pela estrada, em mais 7,5 km para rodar em 2 horas, no máximo. É interessante a forma como o corpo reage em condições extremas: estávamos todos enxarcados, frio, com o corpo surrado, calos, assaduras, fome, mas o desejo de chegar no objetivo, se outra alternativa a escolher, nos trás forças para coninuarmos.
Chegamos em Porto de Cima junto perto de anoitecer, às 17h00, e cumprimos com folga a promessa de tempo chegando na rodoviária de Morretes às 18h30. A galera foi direto para o banheiro para tirar as roupas molhadas e se arrumar do jeito que desse para ganhar um pouquinho de conforto. Alguns resolveram comprar mais alguns lanches no mercadinho em frente à rodoviária. Agora era só esperar pelo ônibus, previso para às 20h15. Depois das 11horas praticamente ininterruptas de trekking, temperados pelo grande volume de água, o que todos queriam era suas camas.
Finalmente no ônibus, todos relaxaram, alguns dormiram, mas todos com a sensação de desafio cumprido. Apesar de todas as dificuldades, todos gostaram, e novamente os Minhocas conseguiram cumprir um caminhada com um grau maior de dificuldade, afinal, FACILIDADE É PARA OS FRACOS!! Até o próximo, Minhocas!


Foto 1: saída em Quatro Barras: Gandalf, Fôdo, Chaveirinho, Ulisses, Baby, Ivan, Tocador, Paulo e Jeep
Foto 2: rodoviária de Morretes: Paulo, Chaveirinho, Fôdo, Gandalf, Baby, Ulisses, Jeep, Tocador e Ivan


Gandalf.
Minhocas Uh Ha Ha


2 comentários:

  1. Borda do campo - Morretes Via Itupava
    quase 30 km, 11 hrs, 11 hrs de chuva...
    bolhas no pe, assaduras na perna...
    Mas terminar a trilha, com sensação de quero mais, nao tem nada igual. Alguns podem falar que e loucura, mas para nos, apenas um estilo de vida. No final da trilha, falei que Itupava nunca mais, mas hoje ja estou pensando na próxima.
    MINHOCAS!!!

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  2. Parabéns pelo desafio vencido! Deve ter sido espetacular! Estou me preparando psicologicamente para participar de um trekking com vocês!

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